quarta-feira, 25 de março de 2009

O fim do comboio no Douro

"Quem tem medo do povo não merece o povo. Como sempre faz, a Refer, com a cobertura do Governo, mandou fechar as Linhas do Tâmega e do Corgo sem aviso prévio. A notícia chegou pela calada da noite.No caso da Linha do Corgo, a Refer elegeu como emissário o governador civil de Vila Real, Alexandre Chaves, que, se tivesse um pouco de decência e memória do tempo em que foi presidente da Câmara flaviense, teria recusado esse triste papel e sido o primeiro a contestar a decisão. A população atingida soube da notícia pela hora do jantar através do um telefonema anónimo para o presidente da Junta de Freguesia de Ermida, José Martins. A Câmara de Vila Real só foi informada mais tarde. Pela mesma altura, sem ninguém saber, o comboio que, normalmente, cumpre a primeira viagem do dia entre Vila Real e a Régua, foi mandado regressar à Régua. Pela calada da noite, fazia provavelmente a última viagem na Linha do Corgo. Não chegou ao seu destino, porque, a meio da viagem, na estação de Carrazedo, dezenas de populares lhe travaram a marcha. A Refer justifica com razões de segurança a decisão de encerrar a Linha do Corgo e diz que o fecho é temporário. Mas toda a gente sabe o que, no léxico de quem tem gerido o caminho-de-ferro em Portugal, significa “temporário”.É com promessas que nunca se cumprem e a oferta de transportes alternativos durante poucos meses, antecedidas de uma degradação contínua do serviço, que alguns dos mais belos troços ferroviários do país têm sido fechados. Foi assim com a Linha do Tua, entre Mirandela e Bragança, foi assim com o troço Pocinho-Barca D`Alva, da Linha do Douro.Na Linha do Corgo nunca houve nenhum acidente. Mas, admitindo que a linha não tem condições de segurança, não havia razões para esconder das populações atingidas o seu fecho temporário. Guardar a informação até perto da hora marcada para o encerramento da linha e mandar regressar à Régua o comboio estacionado em Vila Real revela bem as verdadeiras intenções da Refer, da CP e do Governo. Caso contrário, a ser verdade que a linha não oferece condições de segurança, tanto a Refer como a CP têm andado a brincar com a segurança das dezenas de pessoas, incluindo inúmeras crianças e jovens em idade escolar, que diariamente utilizam a automotora do Corgo. Porque ninguém acredita que a insegurança na linha começou ontem. E um comportamento negligente deste tipo é crime.Por mais explicações que venham a ser dadas, toda a gente sabe que as verdadeiras razões que estão por trás da decisão de encerrar a Linha do Corgo são de natureza economicista. A exploração não é rentável. Mas o Metro de Lisboa, o Metro do Porto, a Carris e muitos troços explorados pela CP também não o são. Há um custo social que todos os portugueses aceitam pagar para manter muitos serviços públicos deficitários. No caso da Linha do Corgo, o custo social que é necessário suportar é uma gota no oceano de desperdícios e prejuízos que tanto a Refer como a CP têm acumulado ao longo do tempo. Para dezenas de aldeias dos concelhos de Vila Real e Régua, o comboio é ainda hoje o principal meio de transporte. Para muita gente, é mesmo o único. Existe uma auto-estrada a ligar as duas cidades, mas as estradas que ligam as aldeias do vale do Corgo são tão estreitas e sinuosas que, em certos pontos, mal passam dois carros.Viver nestas aldeias já é um fardo pesado. Sem transportes, é um castigo. Claro que quem decide desconhece esta realidade. Na equação, as pessoas atingidas são reduzidas a números e tratadas com desprezo. Foi sempre assim. O que choca, neste caso, é constatar que esta política merece o apoio do mesmo Governo que pretende investir 3,8 mil milhões de euros numa linha de alta velocidade entre Lisboa e o Porto. O mesmo Governo que elegeu o Douro como um dos pólos turísticos prioritários para o país e que, no entanto, autorizou a construção de uma barragem no Tua que vai acabar com um dos mais belos troços ferroviários do país. O mesmo Governo que quer povoar a Trás-os-Montes de auto-estradas e não investe um cêntimo no desenvolvimento, ou na manutenção, do caminho-de-ferro na região. O mesmo Governo que, com o fecho das Linhas do Corgo e do Tâmega, dá uma machadada mortal no formidável projecto ferroviário do Douro. Um Governo assim, se não for castigado pelos votos, sê-lo-á, certamente, pela História."
Pedro Garcias

in Público online

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domingo, 22 de março de 2009

Desconsiderações

"O presidente da CIP, baseando-se num estudo da ADFER (a "associação do desenvolvimento ferroviário" que conta, entre os seus associados, com todos os autores do desastre da modernização da Linha do Norte) defende que o TGV entre o Porto e Lisboa não deve entrar na capital pelo norte, como está projectado. Em vez disso, deveria antes flectir para sul, algures no Ribatejo, através de mais uma travessia do Tejo e depois parar em Alcochete, de forma a aproveitar a entrada em Lisboa pela terceira travessia, que também servirá a linha de TGV para Madrid. Ora, sendo conhecido o enlevo do presidente da CIP pelo aeroporto de Alcochete, e sabendo-se que este fica beneficiado se estiver mais acessível ao Norte de Portugal, e já tendo a Rave denunciado este estudo como incorrecto sob vários aspectos, tudo isto não seria mais do que um fait--divers feito de interesses, se não tivessem aparecido algumas vozes do PSD a aplaudir a CIP e a secundar a sua estranha tese. É certo que a oposição tem todo o direito de contestar a política do Governo e de lhe complicar a vida. Mas não é recomendável nem oportuno que o faça à custa da nossa região. Depois da líder do PSD ter estado no Porto e ter afirmado que não tinha sequer opinião formada sobre o modelo de gestão do Aeroporto Sá Carneiro, o que diz bem da importância que atribui aos interesses e sensibilidades desta região, só nos faltava ouvir agora algumas das vozes fortes do partido, ainda por cima eleitos pelo Norte, a subalternizar os interesses estratégicos da região. Quando todos pensávamos que o PSD era liminarmente contra o TGV, e que manteria essa linha de rumo, aparece a defender para o projecto uma tese absurda e insultuosa. Absurda, porque se o TGV do Porto entrar pelo sul, demorando mais vinte minutos no trajecto pelo efeito combinado do aumento da distância e da paragem adicional no aeroporto de Alcochete, o custo por minuto poupado no trajecto Porto-Lisboa face ao pendular aumenta em flecha, o que prejudica a análise custo-benefício de um projecto que, para muitos, seria dispensável se a modernização da Linha do Norte fosse concluída. Insultuosa, porque subalterniza o Norte e, como me dizia José António Barros, o presidente da AEP com quem falei sobre a matéria, porque sacrifica a viabilidade do Aeroporto Sá Carneiro, que não está ligado à rede do TGV, que poderia aumentar a sua área de influência e, em vez disso, vê os seus clientes naturais serem conduzidos através dessa mesma rede ao aeroporto de Lisboa... E, mais uma vez, nada acontece por acaso. "

Rui Moreira

in Público, Local Porto, 23 de Março de 2009

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domingo, 15 de março de 2009

A Linha do Tua chega a Paris



"O vale do Tua, cuja fauna e flora, estão em grande parte, ainda intactos, está, no entanto, ameaçado pela construção de uma barragem na foz do Rio Tua, apoiada pelo Governo Português. Um projecto que irá afogar e condenar a Linha do Tua, uma das mais belas ferrovias da Europa."

Mais Informações

Fonte: http://www.linhadotua.net

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quarta-feira, 11 de março de 2009

Takargo dá início à operação com comboio com destino a Saragoça

A Takargo dá hoje início, com um comboio em direcção a Saragoça, à exploração privada do transporte de mercadorias por caminho-de-ferro em Portugal. A Takargo é um projecto que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos três anos por Pires da Fonseca ex-gestor da unidade da CP para o negócio das mercadorias. Este novo operador ferroviário é uma empresa do grupo Mota-Engil e já investiu neste projecto cerca de 80 milhões de euros.

Fonte: Diário Económico, edição em pappel de 11 de março de 2009

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